segunda-feira, 30 de março de 2015

Minha experiência com a meditação

A Resolução nº 380/2010 publicada no DOU no dia 11 de novembro de 2010 regulamenta o uso das "Práticas Integrativas e Complementares de Saúde" pelos fisioterapeutas, desde que a formação seja comprovada pelo MEC. Apesar de não ter tal formação para ensinar meditação, eu acredito que meu depoimento seja de grande valor para orientar todos aqueles que desejem melhorar sua qualidade de vida e atingir muitos benefícios através da prática de qualquer modalidade de meditação. Não desejo, de forma alguma, "converter" ou convencer ninguém a nada.

Eu já havia experimentado algumas diferentes técnicas de meditação quando conheci a meditação Vipássana através de uma reportagem em 2008. Após muitas postergações e obstáculos reais, eu me inscrevi num curso de meditação Vipássana somente em 2014. Ao contrário do conceito ocidental e moderno de meditação onde a pessoa relaxa corpo e mente num lugar confortável, a meditação Vipássana preconiza que a pessoa permaneça sentada, imóvel e com a mente focada durante longos períodos de tempo. Preparei-me psicologicamente durante cerca de três meses, pois eu conhecia o programa do curso e sabia que não seria fácil para mim. Seriam dez dias no meio da floresta, sem poder usar celular, ler ou escrever nada, com uma alimentação vegetariana e regrada, sem poder falar uma palavra sequer com ninguém. No final, isso tudo eram somente detalhes perto da grande experiência que eu tive lá.

Eu não estava hospedado em um resort ou spa. Eu não tinha luxo algum lá, mas estava muito bem instalado e tinha tudo do que precisava, oferecido com grande generosidade. Isso fazia do lugar um lugar especial. Cerca de onze horas diárias de meditação tinham o efeito físico de pequenas maratonas. Diariamente, éramos instruídos sobre a técnica de meditação e assistíamos palestras sobre ética e moral, sem nenhum teor religioso ou messiânico. A todo momento nossas mentes eram amoladas com facas e nossos corpos eram fortalecidos como esculturas. Segundo essa tradição específica de meditação, não havia como ser disciplinado sem os esforços físico e mental. Ao final do curso, informaram não havia necessidade de continuar com uma rotina tão dura de meditação e recomendaram que meditássemos no mínimo duas horas diárias em casa. 
De volta para casa, eu notei que mesmo essas duas horas diárias de meditação eram muitas vezes impossíveis de serem realizadas. No entanto, a meditação havia se tornado algo essencial e eu passei a meditar sempre que possível, ainda que fossem poucas horas semanais. Eu percebi que os detalhes do mundo tornaram-se grandes. Minha mente estava focada e cada tarefa realizada era uma tarefa de grande importância. Os dias tornaram-se produtivos e um único dia parecia ter mais de vinte e quatro horas. 

Eu estava mais calmo. Não "anestesiado"; eu estava realmente calmo.

A impressão mais impactante que tive foi perceber como minha própria mente me observava. Assim, percebi como eu vinha sendo cruel, intolerante e crítico com as pessoas. Era como observar-se diante de um espelho. E eu não gostava do que via refletido. Havia um lado ruim e um lado bom. O lado ruim: a imagem era desagradável e parecia imutável. O lado bom: era possível mudar e a mudança já havia se iniciado. Mesmo após treze meses, enquanto escrevo este texto, vejo que as mudanças ainda se processam. Como uma pedra lançada no centro de um lago, produzindo ondas concêntricas que se propagavam mais e mais. Assim como nos disseram numa das palestras, aqueles dias haviam sido "dias notáveis".

Uma pessoa que medita não é necessariamente uma pessoa boa ou ruim. É uma pessoa que embarcou na jornada de se tornar um ser humano melhor em todos os sentidos, para si mesmo e para os outros.

Por Fernando M. Pinheiro

Para maiores informações sobre a meditação Vipássana na tradição de Sayagyi U Ba Khin, assista ao documentário "Doing time, Doing Vipassana".



3 comentários:

  1. Fernando, existe algum caminho menos "árduo" para tentar começar práticas de meditação que você recomendaria?

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    1. Goyo, sua pergunta é tão importante que acabaria originando uma outra postagem! O foco desta matéria foi a obtenção de qualidade de vida através da meditação, independente do tipo. De acordo com o objetivo em vista, pode-se escolher uma ou mais dentre diferentes tipos de meditação. A Vipássana é reconhecida como uma das técnicas mais antigas e a técnica que mais transforma, sendo seu objetivo a eliminação de "formas mentais de condicionamento". A tradição que nos foi ensinada (segundo Sayagyi U Ba Khin) preconizava uma série de normas, especialmente o retiro de dez dias; mas depois o praticante fica livre para meditar quanto/quando puder/quiser. Pode parecer árduo, mas encontrei jovens de 18 anos e senhoras de mais de 65 anos, cada um adaptando as exigências de acordo com suas capacidades. Confesso que para mim foi árduo porque eu assim fiz ser; e quando percebi isso, teimosamente recusei-me a fazer diferente. De qualquer forma, recomendo esta técnica como um "desafio pessoal".
      Mas se você quiser entrar em contato pela primeira vez com meditação ou conhecer um tipo de meditação também muito eficaz, recomendo a meditação Anapâna, inicialmente ensinada neste retiro. O objetivo da Anapâna é acalmar a mente através da observação da respiração. Simples, mas requer disciplina como toda e qualquer meditação. Você pode aprendê-la através do vídeo encontrado nesse site, na opção "Páginas Especiais > Aprenda Meditação Anapana":
      http://www.dhamma.org/pt

      Abraços e boa caminhada!

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  2. Adorei reviver meus dias de meditação ao ler as suas belas palavras. Que falta isso me faz...

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