segunda-feira, 11 de março de 2013

Moxabustão (parte 1)

O desconhecimento por parte dos meus pacientes sobre a moxabustão e a resistência de algumas pessoas ao uso desta técnica inspiraram-me a escrever este texto.

A moxabustão é a técnica de aquecimento dos pontos de acupuntura através da queima de uma erva chamada artemísia, nas suas variedades Artemisia vulgaris e Artemisia sinensis, amplamente usada em diversos sistemas de medicina tradicional no Oriente, como na China, Japão e Vietnã. Os japoneses chamam-na “mogusa”, de onde veio a corruptela que originou seu nome no ocidente: “moxa”.

Primeiramente, devo lembrar que a moxabustão é uma técnica que deve ser usada com cautela e somente por acupunturistas devidamente preparados. E antes de explicar seus efeitos devemos abordar as formas de utilização da moxabustão dentro da Medicina Tradicional Chinesa. Existem algumas técnicas, muitas formas de aplicação e variações destas formas; abordarei apenas algumas delas.

Moxabustão direta
Esta forma de moxabustão usa a erva prensada na forma de um “bastão de moxa” que é aceso e aproximado do ponto de acupuntura. A intensidade do calor da aplicação é determinada pelo paciente que informa se está esquentando muito ou pouco. É a forma mais conhecida e utilizada no Ocidente.

Existe uma variação desta forma, onde é usado um “bastão de carvão de artemísia”, que não produz fumaça e quase nenhum odor. Esta é uma forma indicada e usada em ambiente fechados com pouca circulação de ar ou em casos de pacientes sensíveis à fumaça e a cheiros fortes.

A “caixa de moxa” é uma outra forma onde a moxa é espalhada dentro de uma caixa de madeira com um fundo de tela metálica. Então, a moxa é acesa, ficando distante da pele do paciente e aquecendo uma grande área do seu corpo. Esta é uma forma indicada para aquecer grandes áreas como a região lombar, sendo a forma que mais produz calor terapêutico. (E mais fumaça!) É uma forma artesanal e pouco utilizada no Ocidente.

O “cone de moxa” é uma forma de moxabustão que utiliza a artemísia na forma de pequenos cones de 1,0 a 1,5 centímetro de tamanho, posicionados cuidadosamente sobre a pele do paciente, exatamente nos pontos de acupuntura. O cone é aceso no topo com um pequeno bastão de incenso e deixado queimar até que o paciente relate aquecimento ou até que o acupunturista habilmente determine sua retirada. O cone é retirado com perícia, deixando a pele intacta. O caso de cada paciente vai determinar o número de cones utilizados. Normalmente, quanto mais cones, mais se tonifica o ponto em questão. Em uma variação desta forma chamada “moxa escarificante”, deixa-se a moxa queimar a pele do paciente. No entanto, esta forma é pouquíssimo aceita no Ocidente e de rara utilização, por motivos óbvios...


Há, ainda, uma forma de moxabustão utilizada na Acupuntura Japonesa semelhante aos “cones de moxa”, cuja única diferença é o tamanho dos cones. Na verdade, a moxa é moldada na forma de pequenos grãos de arroz e aderidos na pele com uma gotícula d'água. A moxa é acesa e retirada como na forma anterior, mas a produção de calor é mínima, ainda que possa ser sentida pelo paciente. Além de mais segura e de produzir pouquíssima fumaça devido à quantidade mínima de moxa utilizada, eu já tive ótimos resultados usando esta forma de moxabustão em meus pacientes.



Moxabustão indireta
Nesta forma de moxabustão, os cones citados anteriormente são colocados em cima de fatias de alho, gengibre ou pequenos montes de sal, promovendo a dispersão do calor numa área maior e aproveitando-se das propriedades das substâncias presentes nestes anteparos em contato com a pele.




Pelo contrário do que se pensa, a moxabustão não é interessante somente pela produção de calor. Se isso fosse verdade, o uso da moxabustão seria indicado somente para lugares de clima frio e para casos clínicos onde o Fator Patogênico Externo é o Frio. Mas não é isto que acontece. Como foi dito acima, a técnica que utiliza os pequenos “grãos de moxa” quase não produz calor. Então, qual seria a possível explicação fisiológica para o funcionamento da moxabustão? Quais suas funções?

Para não deixar o texto muito grande, deixarei para responder essas perguntas e outras mais na próxima postagem, quando falarei também sobre as indicações e contraindicações para a moxabustão.

Por Fernando M. Pinheiro



Nenhum comentário:

Postar um comentário