segunda-feira, 13 de setembro de 2010

E a primavera se aproxima...

O corpo humano reage às mudanças periódicas e aos ciclos do meio ambiente, e reage como um todo. Assim, podemos observar não somente alterações físicas, mas também alterações psíquicas. As estações do ano são ciclos pouco perceptíveis, mas mesmo vivendo numa era de agressões constantes à natureza com alterações drásticas dos seus ciclos naturais (como períodos de estiagem em pleno inverno ou recordes de temperaturas baixas em pleno verão), podemos observar que ainda assim o corpo humano acompanha o ciclo das estações do ano.

Segundo a Medicina Tradicional Chinesa, temos cinco estações, e não quatro como costumamos conhecer! O período de aproximadamente 18 dias que antecedem a mudança de cada estação é conhecido pelos chineses como canícula. Se dividirmos o ano por quatro estações e subtrairmos o período de canícula de cada uma das quatro estações, obtemos aproximadamente uma quinta parte do ano (73,25 dias). Assim, a Medicina Tradicional Chinesa considera a canícula como uma quinta estação que está dividida e distribuída nas outras quatro estações, sendo todas representadas por um elemento ou movimento energético. O outono é representado pelo Metal, o inverno é representado pela Água, a primavera é representada pela Madeira, o verão é representado pelo Fogo e a canícula é representada pela Terra. Didaticamente, a Terra é posicionada antes do Metal e após o Fogo, mas, segundo os textos tradicionais de Medicina Chinesa, o elemento Terra é colocado no centro, entre os outros quatro elementos, representando o eixo, o Estômago e o Baço, ou seja, a fonte de toda nutrição dos outros órgãos e vísceras.

Como já foi dito, a canícula sempre ocorre antes de cada uma das outras quatro estações e representa a mudança de polaridade de um elemento para o outro, ou seja, a mudança gradual das características de uma estação para outra. Ao final de cada estação, durante a canícula, o Qi, ou energia vital, fica exaurido e precisa ser regenerado, retornando ao centro, ao elemento Terra. Por esse motivo, a canícula é um período em que nosso organismo fica tão vulnerável a fatores patogênicos externos e quando devemos tomar certos cuidados para não desenvolvermos doenças ou desequilíbrios próprios de cada época. Por exemplo, antes da chegada do verão, cujo fator climático predominante é o Calor, percebemos muitos casos súbitos de gripes acompanhados de febres em que as vias respiratórias superiores são agredidas. Antes da chegada do outono, cujo fator climático predominante é a Secura, percebemos muitos casos de gripes e resfriados em que todo o trato respiratório é muito agredido pelas mudanças de temperatura e de umidade. Antes da chegada do inverno, cujo fator climático predominante é o Frio, percebemos muitos casos de gripes e resfriados.

Estamos prestes a entrar na primavera, cujo fator climático predominante é o Vento, quando percebemos muitos casos de alergias respiratórias. Nesta estação, é muito comum na Europa a “febre do feno”, um conjunto de alergias causadas pelo pólen de algumas plantas dispersado na atmosfera pelo aumento de temperatura e pelos ventos desta época. No Brasil, este conjunto de reações é conhecido como rinite alérgica. Os órgãos dos sentidos relacionados a esta estação do ano são os olhos, que são facilmente irritados pelos ventos ou atacados por microorganismos disseminados por estes mesmos ventos, causando surtos de conjuntivite. O órgão relacionado à primavera é o Fígado, o que significa que estamos mais suscetíveis a eventos de mau humor por estarmos mais irritadiços, podendo ocorrer acessos de raiva mais frequentemente ou mais facilmente. A primavera simboliza a infância, representada pelo “Yang nascendo do Yin”, quando as sementes germinam, os talos das plantas crescem, a cor predominante é o verde e as flores desabrocham, espalhando seu pólen pelo Vento que nasce no Leste.

No dia 23 de setembro, entraremos na primavera. Isto quer dizer que já estamos na canícula. Vamos nos cuidar! Podemos nos proteger minimizando ou eliminando os efeitos da mudança de cada estação tomando cuidados simples durante este período. Principalmente durante a canícula (quando somos mais suscetíveis às mudanças), mas também durante toda a primavera, devemos evitar a exposição aos ventos, não só os ventos naturais, conhecidos nesta época como “pé-de-vento”, mas também os artificiais, como ventiladores e aparelhos de ar condicionado. Aqueles que já desenvolveram rinite alérgica devem tomar cuidado com os alérgenos inoculados por essas fontes de vento, como poeira, ácaro, mofo, solventes e produtos com cheiro muito ativo. A fim de não sobrecarregar o Fígado, devemos reduzir o consumo de alimentos ácidos, como alho, vinagre, picles, algumas frutas e vinho, assim como os excessos com gorduras e frituras. No aspecto psíquico, recomenda-se meditar, parar para escutar e refletir, evitar discussões, o que será especialmente bom nesta época do ano, para proteger o Fígado.

Por Fernando M. Pinheiro

Literatura recomendada: “Manual do herói” – Sonia Hirsch


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